Você já se perguntou como seria trabalhar quatro dias por semana, sem perder salário, com três dias inteiros para descansar e aproveitar sua vida pessoal? Essa é a ideia por trás do movimento pelo fim da escala 6×1 no Brasil, que hoje está no centro das discussões sobre direitos trabalhistas.
Com uma proposta de Proposta de Emenda Constitucional (PEC) apresentada pela deputada Erika Hilton, o projeto busca reduzir a carga semanal para 36 horas e por fim da escala 6×1, onde muitos trabalhadores têm apenas um dia de folga após seis dias consecutivos de trabalho.
A discussão não é apenas sobre horas trabalhadas, mas sobre saúde mental, qualidade de vida e equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. Afinal, será que é possível manter ou até aumentar a produtividade em um modelo que valoriza o descanso? E quais os impactos disso na economia? Continue lendo para descobrir os desafios, os apoiadores, as críticas, e o que o futuro pode reservar para o trabalhador brasileiro nessa jornada por condições mais justas e saudáveis.
O que é a Escala 6×1?
A escala 6×1, muito comum em setores de comércio e serviços (como supermercados, farmácias e restaurantes), exige que o trabalhador trabalhe seis dias consecutivos e tenha apenas um dia de folga.
Essa configuração, que limita o descanso e compromete o convívio social e familiar, é vista como prejudicial ao bem-estar físico e emocional dos trabalhadores. O movimento pelo fim da escala 6×1 ganhou força com iniciativas populares e apoio de líderes políticos. Defensores argumentam que a escala 6×1 é um modelo ultrapassado, desproporcional e que leva à exaustão e insatisfação.
O Movimento pela Vida Além do Trabalho
A mobilização para o fim da escala 6×1 ganhou visibilidade com o movimento “Pela Vida Além do Trabalho” (VAT), fundado por Rick Azevedo, um ex-balconista de farmácia que, em 2023, ganhou notoriedade após gravar um vídeo no TikTok criticando a jornada exaustiva de trabalho.
No vídeo, Azevedo denuncia a exploração sofrida por trabalhadores que são forçados a cumprir essa escala, com apenas um dia de descanso semanal. O vídeo viralizou, e o movimento conseguiu mobilizar mais de 2 milhões de pessoas que assinaram um abaixo-assinado pedindo o fim da escala 6×1.
Rick Azevedo, agora vereador pelo PSOL no Rio de Janeiro, argumenta que a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) já está desatualizada e que a redução da jornada de trabalho sem redução salarial é uma questão fundamental para garantir os direitos dos trabalhadores. O movimento promove uma revisão das condições de trabalho no país e busca alternativas que favoreçam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) de Erika Hilton
A proposta para alterar a jornada de trabalho no Brasil foi apresentada pela deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) no Dia do Trabalhador, 1º de maio de 2024. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) propõe uma redução da carga horária semanal para 36 horas, o que permitiria que os trabalhadores adotassem um modelo de jornada 4×3 — ou seja, quatro dias de trabalho e três de folga. Hilton defende que a medida seja implementada sem a redução salarial, o que representa um avanço nos direitos dos trabalhadores.
A deputada justifica a PEC afirmando que, com a implementação de uma jornada mais curta, os trabalhadores teriam mais tempo para se dedicar à família, à saúde e ao lazer, sem comprometer sua renda. A proposta já tem apoio popular nas redes sociais, mas enfrenta resistência de alguns parlamentares e entidades empresariais.
Desafios e Resistências
O governo federal, por meio do Ministério do Trabalho, mostra cautela em relação à proposta. O ministro Luiz Marinho afirmou que devemos discutir a redução da jornada de trabalho através de convenções coletivas, e não por uma mudança constitucional.
Ademais, o vice-presidente Geraldo Alckmin ressaltou que essa discussão é um fenômeno global. Entretanto, cabe à sociedade e ao Congresso decidir sobre a implementação da medida.
Além disso, empresários e representantes de entidades, como a Confederação Nacional do Comércio (CNC), se opõem à PEC. Eles argumentam que a redução da carga horária, sem compensação financeira, aumentaria os custos operacionais.
Consequentemente, isso poderia resultar em demissões e no fechamento de negócios. Essa situação afetaria principalmente os setores de comércio e serviços.
Por fim, a CNC alertou que adotar uma jornada de trabalho de quatro dias poderia prejudicar a competitividade do Brasil no mercado global.
Modelos Experimentais e Resultados Positivos
Apesar das resistências, experiências internacionais já demonstraram os benefícios de uma jornada reduzida. Por exemplo, em países como a Islândia e o Reino Unido, pilotos de jornadas de quatro dias têm mostrado resultados positivos. Esses resultados incluem, por conseguinte, um aumento na produtividade e no bem-estar dos trabalhadores.
Além disso, no Brasil, o movimento global “4 Day Week” está experimentando a jornada 4×3. Nesse contexto, relataram dados animadores. Os participantes notaram, como resultado, um aumento na colaboração entre colegas, redução do estresse e melhora na saúde física.
Ademais, estudos de casos, como o realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), revelam benefícios de uma jornada de trabalho mais curta. Nesse sentido, isso pode trazer vantagens tanto para os funcionários quanto para as empresas. Há um menor número de faltas, além disso, os trabalhadores apresentam mais energia para cumprir tarefas. Consequentemente, isso resulta em uma redução de custos relacionados ao turnover e ao absenteísmo.
O Futuro da Escala 6×1
O futuro da escala 6×1 caminha para uma nova fase, agora que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) obteve o número mínimo de assinaturas para iniciar a tramitação na Câmara dos Deputados. Com mais de 200 parlamentares já apoiando a PEC, a proposta se aproxima de um marco importante para sua discussão formal no Congresso.
Erika Hilton destacou o papel fundamental da mobilização social, que reuniu milhões de assinaturas em apoio à proposta, e ressaltou que o fim da escala 6×1 representaria uma transformação nas condições de trabalho e na qualidade de vida dos trabalhadores. O próximo passo é o protocolo formal da PEC, que precisará de aprovação em comissões e em dois turnos no plenário da Câmara, com pelo menos 308 votos. Se aprovada, a proposta seguirá ao Senado, onde também precisará de duas votações e, pelo menos, 49 votos favoráveis.
A proposta busca não só por fim da escala 6×1, mas também reduzir a jornada semanal de 44 para 36 horas, mantendo o limite de oito horas diárias. O modelo permitiria quatro dias de trabalho e três dias de folga, refletindo demandas por maior equilíbrio entre vida profissional e pessoal. A medida tem ampla adesão entre trabalhadores e parlamentares progressistas, mas enfrenta resistência de setores empresariais, que alertam sobre possíveis impactos econômicos.
A sociedade brasileira acompanha com expectativa esse movimento, que pode redefinir as relações de trabalho no país e consolidar uma jornada mais justa e saudável.